Imagem: Divulgação
Nas traduções brasileiras de livros americanos, ou europeus, não é raro encontrar erros que levam a um molho ácido demais ou a uma doçura indesejada. É que o tradutor apressado quando encontra a palavra inglesa “lemon” coloca ali limão. Acontece que o limão que conhecemos por aqui, verdinho¹ (e em duas variedades mais conhecidas, o Taiti e o já relativamente raro Galego), é chamado, em inglês, “lime” (nome científico, Citrus Aurantifolia). Quando as receitas recomendam o uso do “lemon”, estão se referindo a outro ingrediente: o limão-siciliano (Citrus limon), fruto mais robusto, cuja casca amarela o diferencia imediatamente do verdinho daqui. A grande diferença entre o limão Taiti e o limão-siciliano está no sabor. O siciliano é bem mais suave do que o limão Taiti e bem mais perfumado. Os dois, no entanto, podem ser usados como ingredientes das mesmas receitas, desde que sejam avaliadas as devidas proporções. Enquanto um limão-siciliano médio rende três colheres (sopa) de suco, um limão Taiti médio rende cerca de duas colheres².
Símbolo do calor e do sol do Mediterrâneo, o limão-siciliano, como seus primos, tem origens asiáticas e, precisamente, provém da Índia e da China. Os povos da Mesopotâmia o usavam pelas suas propriedades anti-sépticas, anti-reumáticas e era usado como antídoto contra os venenos e como adstringente nas formas de disenteria e de hemorragias. Foi introduzido na Europa do sul pelos árabes e, mais tarde, chegou às Américas levado pelos espanhóis e portugueses.
Histórias sobre a fruta são contadas aos montes pelas nossas avós que, muito sábias, conhecem todos os seus segredos. Limão misturado com mel na hora da tosse, limão na panela para ela voltar a brilhar como nova, limão para não deixar o ovo cozido virar ovo quebrado na panela da fervura. Lavar folhagens e temperos em água com limão-siciliano deixa as folhas mais crocantes e tenras, além de eliminar bactérias, fungos e parasitas. O limão-siciliano começou a aparecer nas prateleiras dos brasileiros primeiro como produto importado. Agora, já é produzido no Brasil e vai se tornando mais acessível. Segundo a aromaterapia, o limão atua no emocional estimulando o resgate da alegria³.
1 Em áreas de clima tropical, as frutas alcançam a plena maturação interna, mas a casca permanece total ou parcialmente verde, tornando-as inaceitáveis para a comercialização in natura em mercados consumidores exigentes quanto à coloração. Nos países produtores, o desverdecimento é aplicado para melhorar a qualidade externa, proporcionando o desenvolvimento da coloração típica da variedade.
2 A produção mundial de limão (Citrus limon) é estimada em 4,2 milhões de toneladas, sendo Argentina, Espanha, EUA e Itália os principais países produtores. A Espanha, a Argentina e a Turquia são os principais exportadores (Federação Nacional Produtores, 2002). No Brasil, a produção de limão é deaproximadamente 70 mil toneladas anuais (FNP 2002), sendo o ‘Siciliano’ a variedade mais importante.
3 No filme “O jardim de limões”(Etz Limon, Israel/Alemanha/França, 2008) uma plantação de limões torna-se motivo de disputa quando um ministro israelense exige a derrubada das plantas. Ao defender seus limões, Salma provoca o interesse na solitária Mira Navon. Ela é mulher do Ministro que deseja a derrubada dos limoeiros e acaba por estabelecer um laço com a nova vizinha. O longa-metragem foi premiado como Melhor Filme pelo júri popular do Panorama no Festival de Berlim de 2008.
Fonte: Tribuna do Norte
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