Por Clóvis Rossi

human-capital-management-1(Imagem: Google)

O Brasil não trata bem seu capital humano. É o que aparece nitidamente no “Relatório de Capital Humano”, que acaba de ser divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, a entidade que promove, todo janeiro, os encontros de Davos.

O Brasil fica no 57º lugar entre 122 países. Já é um resultado ruim, se se considerar que o país está entre as oito maiores economias do mundo. Quer dizer que tem tamanho, mas não tem qualidade.

Piora as coisas saber que países de bem menor desenvolvimento relativo ficam à frente do Brasil, casos de Costa Rica (35º), Chile (36º), Panamá (42º) e Uruguai (48º), sem falar em Barbados, país caribenho que, na 26ª posição, é o mais bem situado na América Latina/Caribe.

Para fechar o círculo negativo, o que afunda a posição brasileira é educação, um dos quatro pilares que constituem o levantamento. Nesse quesito, que recolhe indicadores quantitativos e qualitativos de todos os três níveis de ensino, o Brasil fica em obsceno 88º lugar.

É claro que sempre cabe um pouco de desconfiança desse tipo de ranking. Mas, no caso do “Capital Humano”, parece um sólido compêndio de 51 indicadores, com aparente pouca margem para subjetividade (a íntegra pode ser consultada em www.weforum.org).

Ainda mais que os três primeiros colocados (Suíça, Finlândia e Cingapura) são de fato países em que o capital humano é empoderado, se o leitor me permite usar um termo de que não gosto, mas que entrou na moda.

O objetivo do relatório, diz o Fórum em sua apresentação, é “fornecer uma panorâmica holística e de longo prazo sobre como os países alavancam seu capital humano e estabelecem forças de trabalho que estejam preparadas para as demandas de economias competitivas”.

O Fórum leva em conta que “o capital humano de uma nação -as habilidades e capacidades das pessoas postas para uso produtivo- pode ser um determinante mais importante para seu sucesso econômico a longo prazo do que virtualmente qualquer outro recurso”.

Se essa definição está correta, o Brasil está mal preparado, em todos os quatro pilares, que são “saúde e bem-estar” (49º lugar), “força de trabalho e emprego” (45º) e no ambiente para a força de trabalho, ou seja, a moldura legal, a infraestrutura e outros fatores que permitam retorno em capital humano, item em que ocupa o 52º lugar.

Vale observar que, na capa em que a revista “The Economist” faz implodir o foguete Brasil que ela própria lançara aos céus há um par de anos, fatores relativos a capital humano (educação em primeiro lugar) também eram apontados como responsáveis pelo suposto (ou real?) fracasso do Brasil.

Não adianta, portanto, ironizar a “Economist”, como fez a presidente Dilma Rousseff, por mais que os problemas conjunturais que ela aponta sejam de fato exagerados, pelo menos do meu ponto de vista.

O fato é que o Brasil tem problemas estruturais que o amarram ao solo faz gerações.

Não é culpa de Dilma ou só de Dilma, mas está na hora de encará-los em vez de chutar o espelho que os mostra.

 

Fonte: Folha de S. Paulo │ Coluna Clóvis Rossi