John McInerny é um cover argentino de Elvis Presley. No drama O Último Elvis, que estreou sexta-feira (29 de março) em Porto Alegre, foi recrutado para interpretar um personagem de nome Carlos Gutiérrez.
Solitário e desiludido, ele até admite que seu nome é Carlos. Faz isso, contudo, como se fosse uma concessão social para não ser chamado de louco. Lá no fundo, ele acredita, de fato, que é Elvis Presley.
Primeiro filme dirigido pelo roteirista Armando Bo, O Último Elvis é uma parábola de obsessão e negação identitária muito bem escrita e filmada, exibida no Festival de Sundance e desde já candidata a surpresa da temporada cinematográfica. McInerny brilha cantando de maneira apaixonada algumas das músicas eternizadas pelo Rei do Rock. Ele encarna um sujeito frustrado, totalmente desajustado. Só suporta passar os dias como operário de uma fábrica do subúrbio de Buenos Aires porque pode se isolar daquele contexto concentrando-se na música que sai de seus grandes fones de ouvido.
Os argentinos são obcecados pelos imitadores. Vêm de lá os mais festejados covers do mundo, entre outras bandas, de Beatles, Queen e Pink Floyd. É curioso, nesse sentido, conhecer a representação de uma agência na qual, além do Elvis wannabe, aparece gente que ganha a vida se apresentando como, por exemplo, Barbra Streisand e Gene Simmons.
É muito competente a forma com que Bo e o diretor de fotografia Javier Julia compõem o visual do filme, entre o realismo cru a retratar aquela agência estranha, e em crise, e alguns lampejos de glamour – que reluzem dos shows e do próprio figurino do protagonista. Mas O Último Elvis cresce, mesmo, quando a ex-mulher (Griselda Siciliani), que ele insiste em chamar de Priscilla (nome da ex-mulher do cantor), sofre um acidente de carro, forçando-o a se reaproximar da filha pequena (Margarita López), batizada Lisa Marie (como é chamada a filha de Elvis). Entre a vida real e aquela que, para ele, seria a ideal, vai um abismo. O longa triunfa na maneira com que apresenta essa dicotomia, a partir de apelos para que Gutiérrez, o homem entre esses dois mundos tão distintos, escolha definitivamente um deles para se inserir.
De fato, ele vai tomar uma grande decisão, num final triste porém estimulante, sobre o qual, evidentemente, convém expor o menor número possível de pistas. Um dos autores do roteiro da produção espanhola Biutiful (de Alejandro González Iñárritu, 2010), Bo confirma aqui um raro talento na construção de bons personagens. Desta vez, talvez porque também assine como diretor, soube inserir seu protagonista numa trama mais objetiva e mais bem fechada.
Fonte: Zero Hora
O Último Elvis (El Último Elvis)
De Armando Bo.
Com John McInemy, Margarita López e Griselda Siciliani.
Drama, Argentina, 2012.
Duração: 91 minutos.
Classificação: 10 anos.
Cotação: 4/5
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