16271878Foto: Jessé Giotti / Agencia RBS

Na longínqua Suécia um jovem que tocava sax numa banda punk de rock alternativo ouviu bossa nova e pensou: quero entender o que eles estão dizendo. Talvez com um pouco menos de firulas, essa é a história de como o sueco Hans Berggren, 68 anos, veio parar em Florianópolis há 24 anos e como se tornou o tradutor para a língua nórdica das obras de um dos maiores autores da língua portuguesa, José Saramago (1922 – 2010).

Hasse — Hans é como João em português e Hasse é o apelido óbvio para o nome — é um tipo estiloso, alto, magro, usa óculos e bigode. É figura conhecida no circuito de blues da cidade por tocar sax no grupo Red River Combo — que deu lugar ao extinto Cristiano Ferreira Trio. Quando aportou no país há duas décadas, ele já sabia falar português.

O Brasil sempre me fascinou. A gente ouvia bossa nova e eu tinha que saber o que estava a cantar — conta.

Em 1990 ele tinha um dinheiro guardado, uma boa máquina de escrever e uma biografia do Miles Davis para traduzir. Primeiro passou uns meses no Rio e no ano seguinte aportou na Ilha, onde conheceu a mulher.

O músico debutou como tradutor em 1986. Desde então já traduziu 85 obras, a maioria do inglês para o sueco. Do português traduziu Budapeste, de Chico Buarque, e uma obra de Patricia Melo, quem considera uma grande escritora brasileira.

As traduções de Saramago apareceram por acaso, quando uma colega que já havia traduzido duas obras do autor optou por não traduzir O Evangelho Segundo Jesus Cristo, por ser muito católica. Hasse não recusou o trabalho e depois traduziu praticamente todos os livros do escritor português.

Ele foi muito importante para mim como pessoa e como escritor — afirma.

Às sentenças que nunca têm fim, assim como à fluidez da narrativa e aos ditados populares principalmente em Portugal, comuns na obra de Saramago, Hasse dedica especial atenção, num esforço para que a criação faça também sentido no contexto social e cultural do seu país de origem.

Tento seguir a fluidez. Saramago tem essas sentenças que são enormes e que dão muito trabalho para fazer legível e legal.

Atualmente Hasse trabalha na tradução do livro Flecha de Deus, do escritor nigeriano Chinua Achebe (1930 – 2013). Também traduziu recentemente Noites de Alface, da brasileira Vanessa Bárbara.

Mais do que a literatura, é a música que o tem deixado feliz. Hasse, que toca sax desde os 16 anos e trabalhou como músico profissional na Suécia, está atualmente se dedicando a aprender violão.

E eu quero cantar!

Ainda não traduziu obras da literatura sueca para o português, a não ser para consumo próprio, mas quem quiser vê-lo tocar, que é um espetáculo à parte, é só acompanhar a agenda de shows do Red River Combo.

 

Fonte: Zero Hora