Criado para ser um mercado comum, o Mercosul vem enfrentando nos últimos meses uma série de medidas protecionistas – especialmente entre Brasil e Argentina – que geram uma série de queixas de exportadores com produtos barrados nas alfândegas por motivos burocráticos.

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O impasse mais recente foi provocado pelo limão siciliano, que afetou as exportações de carne suína brasileira para a Argentina. O problema é que o Brasil descumpriu promessa feita em junho de voltar a permitir a entrada de limões sicilianos em seu território.

Em retaliação, o governo argentino suspendeu a emissão de declarações juradas de antecipação de importação (DJAI), documento que significa uma autorização caso a caso para as compras do país no exterior.

O limão siciliano é produzido em uma única Província da Argentina, Tucuman, e é pouco consumido no Brasil. Em 2011, a Argentina vendeu US$ 17 milhões em limão para o mercado brasileiro. Neste ano, nada. Em contrapartida, em outubro, a venda de carne suína do Brasil para a Argentina foi de 2.370 toneladas (US$ 8,1 milhões). No mês anterior, tinha sido de 3.269 toneladas.

Essas barreiras, na opinião do alto representante-geral do Mercosul, Ivan Ramalho, não preocupam, pois o balanço geral do comércio regional demonstraria que o bloco foi consolidado em termos econômicos, comerciais e industriais.

A “prova” desse êxito, declarou, foi a retomada dos patamares do comércio entre os países do bloco, que caíram com a crise financeira internacional. ”O comércio intrabloco certamente vai continuar crescendo nos próximos anos, ainda que surjam eventualmente dificuldades entre os países”, avaliou.

Segundo Ramalho, as medidas protecionistas ocorrem por precaução contra a chegada de novos produtos e novos países, especialmente os asiáticos, nas disputas comerciais.

O alto representante é o responsável pela interlocução com os negociadores externos, como empresários, países fora do bloco, universidades e demais interessados em aproximação com o grupo.

Multinacionais
Também para o ex-secretário-geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães, que ocupou o cargo antes de Ramalho, as medidas protecionistas estão relacionadas com a crise econômica internacional e da necessidade de os países membros têm de industrializar suas economias e superar as dificuldades na balança de pagamentos.

Guimarães destaca ainda que o comércio no Mercosul, em grande parte, é desenvolvido por empresas multinacionais, não por empresas nacionais. “Cerca de 90% do comércio entre Brasil e Argentina é dessa natureza, com aproximadamente 60% na área de automóveis, que é regido por um acordo que afeta empresas multinacionais”, explicou.

Na opinião do embaixador, essas empresas têm estratégias de investimentos e de comércio próprias, que nem sempre convergem para os conceitos administrativos do bloco.

Desemprego
O presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, senador Roberto Requião (PMDB-PR), concorda com o embaixador e vê nas barreiras do bloco econômico uma reação ao que chamou exportação de desemprego feita pela Europa e pelos Estados Unidos. “Todos os países estão apostando exportação do desemprego, vender para fora para gerar emprego interno e salvar seu sistema bancário. Eles [Europa e EUA] estão desesperados com a inflação e o desemprego”, avaliou.

 

Fonte: Câmara Notícias