12357_2_LJeremy Rifkin (Imagem: Wikimedia Commons)

SÃO PAULO – As máquinas irão mudar o conceito do que é ser humano. De acordo com o teórico social Jeremy Rifkin, elas irão minar o nosso senso sobre propriedade privada, tirar os nossos trabalhos e nos tornar agentes livres de uma nova ordem global de “economia cooperativa”. Em uma boa medida, essas mudanças irão destruir capitalismo antes da metade do século XXI.

Rifkin acaba de publicar seu novo livro “The Zero Marginal Cost Society”, ou A Sociedade do Custo Marginal Zero, em tradução livre. “Se você está pensando que a sociedade do custo marginal zero pertence ao gênero futurista, que recorre a previsão de eventos extremos para atrair atenção, então você até poderia estar certo. O valor desse livro, contudo, não reside na precisão de suas previsões específicas, mas sim na extrapolação de tendências atuais que Rifkin alcança”, destaca a resenha do Financial Times sobre o livro.

Rifkin vislumbrou um novo futuro, em que o grande destaque fica para a lógica colaborativa da internet, que tomará conta do sistema quase como um todo. O autor ressalta que as máquinas, que sustentam o argumento central do livro, serão autorreplicantes, sendo capazes de produzir suas próprias peças de reposição e serão alimentadas por uma fonte de energia alternativa como o Sol.

Elas serão conectadas pela “internet das coisas”, uma rede de auto-organização que lhes permite operar como parte de uma nova infraestrutura inteligente generalizada, com as máquinas não requerendo nenhum trabalho humano para funcionar. Como resultado, o custo marginal de produção cai perto de zero e, então, tudo se torna livre. Em sua busca por lucro, as empresas terão irrevogavelmente que minar suas próprias margens.

Desta forma, o capitalismo vai ser destruído. Mas não se desespere, aponta Rifkin: em seu lugar, surgirá uma civilização baseada em um novo e mais gratificante cooperativismo. Este movimento ocorre primeiro em indústrias como de entretenimento e internet, mas também fica claro em outros campos.

Rifkin destaca que os lucros corporativos começam a diminuir, os direitos de propriedade estão cada vez mais fracos e uma economia baseada em escassez é substituída por uma economia de abundância. Cursos online e impressoras 3D já são sinais do futuro que está por vir. Além disso, o uso de energias renováveis, que responderão por 80% do sistema de geração até 2040 e de forma totalmente descentralizada, também será um fator preponderante para este novo sistema.

E esses grandes avanços de produtividade devem afetar metade da economia mundial até 2025, como aponta Rifkin.

Assim, as três previsões do autor são o avanço da economia colaborativa, que vai derrubar as maiores empresas mundiais, encolhendo suas margens de lucro, a rede descentralizada de energia e eliminação do trabalho, com as máquinas assumindo o comando. Por outro lado, a economia da abundância fará com que a vida das pessoas seja gratificante, aponta. “Livres da necessidade de ‘ganhar a vida’, as pessoas vão ter mais tempo para o que realmente importa”.

Contestações
Pode-se fazer algumas contestações sobre a tese do autor. A primeira, é de que o capitalismo é facilmente mutável: quando os lucros estavam evaporando, os monopólios ganharam forças, além de outra forma de aumentar o valor dos negócios.

Em segundo lugar, está os pressupostos que ele usa sobre como a natureza humana vai mudar para acomodar à nova realidade. “Afinal, se tudo é de graça, não se levaria a um materialismo ainda maior que destrói o planeta?”.

Porém, para Rifkin, haverá uma maior harmonia entre as pessoas e o planeta. Com os padrões de vida subindo, as taxas de natalidade em partes mais pobres do mundo tendem a cair, até chegar a um nível sustentável. Futuros alternativos parecer igualmente plausíveis: os milhões que saem de extrema pobreza nos países em desenvolvimento poderiam encontrar-se em um mundo de oportunidades limitadas.

As previsões de Rifkin são polêmicas e trazem à tona diversas discussões sobre tecnologia. Como lidar com as consequências, é algo que só o futuro pode apontar.

 

Fonte: InfoMoney