Tom Zé (Foto: Eder Capobianco)
O que significa Tom Zé, Moraes Moreira, Traditional Jazz Band, Gong, Almir Sater, Made In Brazil e Yamandu Costa no mesmo festival? Significa que ele cresceu. Que ele cresce. Em ritmo acelerado. Na mesma levada do Confraria da Costa, Cadillac Dinossauros e Trombone de Frutas. Prontos para decolar. Juntos. Levando a galera do Baião de 2 e o palhaço bêbado da perna-de-pau. De brinde para todos veio o sol. Raiando forte até terça-feira, quando São Pedro mandou a chuva para refrescar o fim da festa. Mas não foi tudo isso que fez da Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho-SC, o melhor lugar para se estar entre os dias 28 de fevereiro e 5 de março. Foram as cerca de quatro mil pessoas num astral psicodélico, curtindo como se não houvesse amanhã, que fizeram tudo valer a pena.
As mudanças estavam lá. Lado a lado com as novidades. Dividindo espaço com o Rock’n Roll. Não só no cast de grandes nomes da música brasileira. Também na ocupação de um espaço novo com o Palco do Sol, com mais sombras e a mesma energia. Muito bem aproveitada pelo Módulo 1000, que fez a galera voar. Difundida aos quatro ventos pelo Nego Blue & Trio Bambu. Depois se transformou em ciranda com o Pife na Manga. Trazendo o Fukai, lá de Natal. Por fim se psicodelizou com o Sopro Cósmico, que mostrou a todos a existência da quarta dimensão. Mas o ápice de tudo veio do Palco Psicodália. Era só a passagem de som do Morais Moreira, mas quando ele tocou Mistério do Planeta a Fazenda Evaristo parecia ser o paraíso e o instante virou eterno. Eufórico como o Wander Wildner. Muito louco como o Tom Zé. Pirado no ritmo da Traditional Jazz Band. Sem dúvida o palco estava abençoado por Dionisio, que viajou com o Pedra Branca. Explodiu com o Cadillac Dinossauros. Depois se tornou imortal com o Di Mello. Tudo maestralmente apresentado pelo ser humano fabuloso maluco das frutas Conde Baltazar.
Tinha também o Palco do Guerreiros, com grandes surpresas, como o Capitão Rodrigo. A oportunidade do Palco Livre, por onde passou o Gabriel Romano Gonzalez e Grupo. Mas os palcos pareciam ser poucos. Foi para o Davi Henn e o Despacho, que não precisaram de mais que grama e uma sombra para fazer um show. Podia ser improvisado, como na Combi do som que fervia sempre que o sol estava nascendo. Também tinha quem não precisava de palco, só de uns amplis e uma bateria no camping Mutantes. Isso era muito para quem só tinha um violão, a voz rouca e uma árvore para encostar.
No palco, a banda ‘Velho Hippie’ (Foto: Eder Capobianco)
Com a trilha sonora garantida, e a Rádio Kombi mantendo o som rolando, um mundo de arte independente e espontânea acontecia ao mesmo tempo. Era galera jogando bolinha e clave para todo lado e a todo momento. Tinha mais circo! No trapézio, nos panos, nos palhaços. Qualquer duas árvores serviam para o SlackLine. Diversão garantida para todas as crianças do mundo. As grandes e as pequenas. E tinha um monte das pequenas. Muitas assistiam todos os dias pela manhã os mesmos desenhos que seus pais na tenda de Teatro / Cinema estrategicamente bem colocada ao lado do camping Terreno Baldio. Por lá também passaram cia de teatro e marionetes. Uma sonorização ao vivo de Chaplin esplendida! Também foi um espaço para oficinas. A arte estava por todo lugar. Yoga, teatro do oprimido, macramê, desenho, alimentação viva, fotográfia. Você ainda podia esbarrar com As Ninfas do Amanhecer e descobrir o quanto a felicidade é bonita. Teve Jesus e o Diabo. O E.T. De Varginha consertando seu disco voador numa oficina próxima. Piratas do nau Confraria da Costa. Gnomos. Duendes. Tudo que você quiser.
Em tempos como os atuais, onde as pessoas estão nas ruas, com os nervos a flor da pele, os festivais ganham uma importância ainda maior. Exercitar o direito de se reunir, trocar informações e viver por alguns momentos um sonho impossível é fundamental para se continuar acreditando na construção de um mundo melhor. Além disso é uma forma de mostrar para o mundo inteiro que o Brasil não é só o país da corrupção, do abuso de poder, da subserviência, do futebol e do samba. É também uma nação alternativa de artistas, músicos, professores, escritores, fotógrafos e trabalhadores que não se cansam de sonhar. E todas estas estavam lá!
Festival Psicodália 2014 – Rio Negrinho, SC
Fonte: Overmundo
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