O filme “Cores”, que estreia nesta sexta (10) –e que, apesar do nome, é rodado inteiramente em preto e branco–, retrata a vida de Luca e seus amigos Luara e Luiz, um casal. Todos têm por volta dos 30 anos e vivem em São Paulo durante o governo Lula.

O longa, que foi exibido na Mostra Internacional de Cinema do ano passado, é o primeiro do diretor Francisco Garcia, o Chico, 33, e do produtor André Gevaerd, 29, que se conheceram na faculdade e hoje têm a produtora Kinoosfera Filmes.

"Cores", primeiro longa do diretor Francisco Garcia

“Cores”, primeiro longa do diretor Francisco Garcia

Chico afirma que o trio de personagens é espelhado na sua vida e na vida de amigos, geração dos anos 80 que não deslanchou junto com a economia do país.

Os personagens tentam sair à noite ou viajar, mas sua vida permanece estática –há cenas em que a velocidade de uma tartaruga se contrapõe à inércia do grupo, sempre fumando maconha, fato que arrasta ainda mais o filme.

“Não quis retratar a realidade econômica do Brasil, mas observar que o crescimento não se materializou na vida de certo setor da sociedade”, afirma Chico.

A ausência de cor no filme ressalta elementos como o som, trilha de Wilson Sukorski feita exclusivamente para “Cores”, e a fotografia, cuja precisão artística mostra influências da escola construtivista russa, especialização do diretor de fotografia Alziro Barbosa.

JOVENS PRODUTORES

Para realizar um filme em que nada acontece, o produtor André Gevaerd teve de fazer muitas coisas. Conseguir R$ 2 milhões para financiar “Cores”, por meio de investimento de sua produtora e recursos de editais, só foi possível depois de muita experiência com produção.

Gevaerd, que também é montador e diretor, chama atenção pela idade –no meio cinematográfico, não é comum encontrar produtores com menos de 30 anos– e representa um grupo de jovens produtores que têm conseguido espaço no mercado.

“Dirigir é a parte glamurosa, ninguém quer botar a mão na massa, ou seja, produzir”, afirma Fernando Capuano, 33, produtor e diretor. Ele é um dos novos produtores que tentam viabilizar seu primeiro longa.

Mas nem Capuano, que já coproduziu o filme “Vai-Vai: 80 Anos nas Ruas” (2011), dirigido por ele mesmo, quer ficar para sempre na produção. “Quando achar um parceiro para ser produtor, esse cara vai produzir pra mim”, diz.

Gevaerd, de “Cores”, é um caso raro de quem sempre quis produção. Começou fazendo vídeos aos 15 anos, varreu sets de filmagens em estágios durante a faculdade de cinema e conseguiu produzir o primeiro longa-metragem aos 20 anos. O filme, que na época custou R$ 7 mil, foi viabilizado com recursos do que tinha economizado do estágio e com investimento do diretor, um amigo de Gevaerd.

Gevaerd e Chico, diretor de “Cores”, se conheceram na faculdade, assim como muitas duplas de produtores e diretores. Juntos e com outros amigos, fundaram a Kinoosfera Filmes em 2006 e, desde então, já produziram mais de 20 curtas, além do primeiro longa.

“Vi o curta-metragem como caminho para a produtora ser reconhecida e começar a crescer”, afirma Gevaerd.

PUBLICIDADE

Outros jovens produtores, no entanto, afirmam que a única maneira de inserir-se no mercado é produzindo publicidade institucional, que, embora diferente da produção para cinema, dá maior retorno financeiro.

Esse foi o caminho para que o produtor curitibano e Antônio Júnior, 29, dono de sua própria produtora, conseguisse viabilizar o primeiro longa, “Circular” (2011). “A publicidade toma menos tempo e rende muito mais, mas é um caminho para sustentar a produtora no começo e depois fazer só cinema”, afirma.

A nova lei da TV paga, que exige a exibição de três horas e meia semanais de conteúdo nacional, também aqueceu o mercado de produção para a televisão, e abriu as portas para mais produtores.

O professor de produção executiva do curso de Cinema da Faap Humberto Neiva afirma que atualmente, o trabalho mais imediato para o aluno que sai da faculdade é relacionado à produção, seja em estágio, ou em cargos como de assistente. “O difícil é chegar a ser produtor executivo ou apenas produtor, que é o ‘dono’ do filme”, diz.

Ronald Kashima, 29, diretor de produção que almeja ter sua própria produtora algum dia, concorda. “O mercado de produção é enorme, então quem não consegue espaço como diretor ou roteirista acaba caminhando para esse lado.”

Para quem quer realmente chegar a produzir o próprio filme, Gevaerd, de “Cores”, recomenda que o aluno faça “de tudo” na área de cinema. “Para ser ouvido e respeitado pela equipe, um indivíduo deve ter conhecimento profundo de todas as funções.”

Peu Robles, 27, formado em economia e Paula Sacchetta, 25, em jornalismo, foram parar na produção por acaso. Entusiastas da fotografia, decidiram que congelar momentos tirando fotos não era suficiente para contar histórias como queriam.

Depois de realizar produções menores, a dupla montou a própria produtora e fez um projeto para viabilizar, via crowdfunding, o documentário “Verdade 12.528”, que narra os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade e conta histórias de personagens da ditadura militar no Brasil. Sem formação em cinema, Robles e Sacchetta aprenderam a produzir conteúdo na prática.

“Surgiram dúvidas e problemas, como o orçamento apertado demais que fizemos para o planejamento do filme ou como a ocasião em que tivemos de refilmar um depoimento porque vimos que a luz não estava muito boa”, diz Sacchetta.

 

Fonte: Folha de S. Paulo


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PRODUÇÃO Brasil, 2012
DIREÇÃO Francisco Garcia
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
ONDE Espaço Itaú de Cinema – Augusta 3,
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 6
AVALIAÇÃO bom